Atenção: começa já amanhã
Posted by J. Vasco em 17/04/2012
«A indiferença é um apoio tácito àquilo que é forte, àquilo que domina. (…).
O desinteresse político é saciedade política. O homem saciado tem uma atitude «desinteressada», «indiferente» em relação a um pedaço de pão; mas o faminto será sempre «partidário» na questão do pedaço de pão. O «desinteresse e indiferença» em relação ao pedaço de pão não significam que um homem não precise de pão mas que esse homem tem sempre o pão assegurado, que ele nunca teve falta de pão, que ele se acomodou firmemente no «partido» dos saciados. O sem partidarismo na sociedade burguesa é apenas a expressão hipócrita, encoberta, passiva, do facto de se pertencer ao partido dos saciados, ao partido dos dominantes, ao partido dos exploradores.»
Lénine, O Revolucionarismo Sem Partido, Obras Escolhidas Em Seis Tomos, 1, Edições Avante, p. 287
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Posted by qmiguel em 10/03/2012
Eftichios Bitsakis é professor de física teórica na Universidade de Atenas e ensina também filosofia na Universidade de Ioannina. É autor de várias obras científicas entre as quais: Física e Materialismo Dialéctico; Física e Materialismo; O novo Realismo Científico. Deixamos aqui uma curta entrevista em torno da dialéctica da natureza.
P: O que significa para si a expressão “Dialéctica da Natureza”?
E.B.: Essa expressão implica desde logo uma certa concepção da natureza, cujas origens remontam às intuições dos filósofos Pré-Socráticos, e que foi elaborada por Hegel no quadro de um sistema idealista e posteriormente por Engels como parte constituinte da visão materialista e dialéctica do mundo. Segundo esta concepção a natureza é uma realidade objectiva que ainda para mais é “de si e por si” (o princípio de asseidade é fundamental para o materialismo). A matéria é ontológicamente una e, ao mesmo tempo, diversa nas suas formas: unidade na diversidade. A natureza constitui assim uma totalidade héterogénea e em devir. O movimento é um atributo imanente e inalienável da matéria e realiza-se graças às interacções físicas; graças ao jogo de oposições e de contradições que caracterizam as formas materiais (a oposição e a contradição não são categorias meramente epistémicas mas também ontológicas: referem-se ao ser e não apenas ao nosso conhecimento). Desta forma a natureza caracteriza-se por uma hierarquia de estruturas e de níveis que aparecem ao longo do tempo e que desaparecem tomando outras formas. A criação e a destruição das formas da matéria obedecem a um certo número de determinações. A mudança qualitativa realiza-se por meio de “saltos”, isto é, rupturas da continuidade, como negação da forma inicial e negação da negação. A cosmogénese dá-se no espaço e no tempo, que são formas de existência da matéria. Isto para expôr resumidamente alguns dos aspectos de uma concepção dialética da natureza.
P: Será que é possível falar da “dialéctica da natureza” em geral, ou será que devemos entender esta expressão somente no plural? Será que ainda podemos falar de “leis” da dialéctica naquilo que à física ou a cosmologia diz respeito?
E.B.: Existe hoje uma tendência, nalguns meios marxistas, para conceber apenas dialéticas “locais” ou “regionais” e rejeitar “A” dialética da natureza. As ciências da natureza de hoje surgem de relações dialéticas e por meio destas é possível elaborar dialéticas regionais. Vejamos:
1) A matéria apresenta-se hoje sob formas extremamente heterogéneas. No entanto existe uma unidade ontológica dessas formas, que se manifesta através de leis que são comuns para todas as formas e níveis. Também ao nível microfísico existe uma transformação de diferentes partículas elementares em formas diferentes e opostas.
2) A matéria tem uma história. As formas actuais caracterizam um certo estado de evolução do cosmos. Para além disso, é quase certo que ainda hoje exista criação de matéria, que não é mais que a emergência de particulas do “fundo” (do nível sub-quântico).
3) O vazio de Demócrito não era mais que uma mera abstacção. Hoje em dia, considera-se o “vazio” como um oceano de formas da matéria que passam, mediante certas condições, do potencial ao actual.
4) Segundo algumas teorias relativistas, existe uma unidade entre espaço, tempo e matéria. Neste caso, é a matéria, e o seu movimento, que determina a forma do espaço e o fluxo do tempo.
5) A cosmogénese não diz apenas respeito à historicidade das formas da matéria do nível microfísico e às formas do macrocosmo. Existe uma história da formação da terra, da aparição e evolução da vida, da antropogénese e da noogénese.
6) As formas de existência e a sua transformação obedecem a um certo número de tipos de determinação: mecânica, dinâmica, estatística quântica e estatística clássica.
Penso que por meio do estudo concreto destas áreas é possível elaborar dialécticas regionais concretas.
Aceitemos que estas dialécticas regionais são elaboradas através de uma valorização filosófica das leis das ciências naturais. Elas podem assim ser legítimas do ponto de vista epistemológico. Agora, será que podemos falar de “leis” no que diz respeito à natureza considerada como um todo?
Sartre, por exemplo, achava que podiamos falar de dialéctica da história, mas não de dialética da natureza, uma vez que a natureza, segundo ele, não constitui uma totalidade. Hoje em dia está provado que a natureza constitui uma totalidade, que inclui diferença, oposição e contradição. A escola Althusseriana assumiu uma posição reservada, pois para esta uma dialéctica da natureza poderia significar uma nova ontologia dogmática. Para Altusser a filosofia não tem história, as suas teses implicam uma espécie de eternidade. No entanto, as diferentes teses filosóficas não surgem arbitrariamente, mas antes em relação com a prática social e com as descobertas das ciência. Desta forma e apesar da existência de um certo número de questões eternas, as questões que a filosofia levanta têm uma história própria e o seu conteúdo altera-se com o curso do tempo, de tal forma que as aporias filosóficas vão sendo pouco a pouco esclarecidas. A filosofia não consiste num mero elaborar de teses, ela é o reflexo de uma concepção do mundo, e esta concepção nunca é arbitrária.
Como é que confluem então a ciência e a filosofia? O desenvolvimento das ciências dá-se por meio de um duplo movimento: especialização e generalização. Os conceitos científicos aproximam-se das categorias filosóficas. Não é por acaso que os mesmos termos (matéria, espaço, tempo, interacção, causalidade, etc…) são utilizados tanto pelos cientistas como pelos filósofos. Estas palavras, a que no domínio das ciências poderiamos chamar conceitos quase filosóficos, exercem uma mediação entre as ciências e a filosofia. Assim as categorias e as teses da filosofia não são vazias e anti-históricas, mas plenas de conteúdo concreto. Consequentemente as “leis” da dialéctica da natureza não são leis em sentido estrito, mas proposições correctas, com sentido metafísico, que se acordam com as ciências. A dialéctica da natureza não é uma ontologia axiomática, mas uma concepção da natureza que se elabora através da generalização e superação dos conhecimentos das ciências da natureza.
P: A dialéctica da natureza foi desvalorizada pelo uso dogmático feito à época de Jdanov e Estaline. Será que podemos distinguir a dialéctica da natureza do uso dogmático que dela foi feito e relacioná-la com a evolução da ciência contemporânea?
E.B.: A dogmatização da dialéctica da natureza e em geral da filosofia marxista, pode ser explicada pelo desvio global da União Soviética. No “Socialismo de Estado” a dialéctica, por natureza crítica e revolucionária, adquiriu uma forma simplificada e apologética. Hoje, as ciências contemporâneas abrem novas prespectivas para uma dialética da natureza já livre do dogmatismo. Engels dizia que à medida em que se dão grandes revoluções científicas, o materialismo dialético (e a dialética da natureza em particular) deve mudar de forma. Ora não se trata aqui de mudar de forma. As categorias dialécticas e mesmo todo o edifício da dialéctica da natureza devem ser novamente elaboradas, dando valor filosófico ao material concreto das ciências da natureza. Como diria Hegel: a filosofia é hostil ao abstracto e deve levar sempre ao concreto. O último capítulo do meu livro trata das novas prespectivas da dialéctica da natureza.
P: Existe o perigo de uma nova ontologização da dialéctica?
E.B.: As palavras não nos devem fazer medo. Uma teoria do ser, ou melhor, uma ontologia anti-dogmática, é hoje possível. Esta teoria do ser refere-se ao ser por meio do nosso conhecimento deste. É evidente que ela fala do ser por meio do nosso conhecimento da natureza. Uma das condições para evitar desvios indesejáveis é pensar a dialéctica que se encontra no materialismo.
P: Quais são então as descobertas ciêntíficas contemporâneas que podem ser interpretadas a partir de categorias dialécticas?
E.B.: As ciências “filosóficas” por excelência são a física, a astrofísica, a cosmologia, a biologia e a psicologia. Também a matemática se pode ligar à dialéctica, ainda que de uma forma um tanto quanto indirecta. Interpretar dialécticamente não significa procurar aquilo que se deseja, nem ter concepções de base preestabelecidas, mas sim interpretar o material científico e compreender as relações dialécticas que aí se encontram implicadas, e, se quisermos, num movimento ao contrário, “interpretar” a ciência. A filosofia não pode exercer uma função normativa em relação às ciências. A sua função deve ser epistémológica: análise, critérios, compreensão das relações e tendências em questão, assinalar os objectivos e os métodos.
P: Existe uma tendência para “recitar” a filosofia de Marx e de Lénine, alguns guardando o materialismo e rejeitando a dialéctica, outros procedendo em sentido inverso… Na sua opinião o que é que se perde quando se perde a referência ao materialismo dialéctico?
E.B.: Como disse ainda há pouco: pensar a dialéctica que está no materialismo. Marx era claro no que respeita à unidade indissolúvel da dialéctica e do materialismo. Engels também. Quando a Lénine, apesar de existirem diferênças no que diz respeito aos problemas e ao estilo, ele continua e desenvolve as concepções de Marx e Engels. Há uma unidade imanente destes três autores clássicos da filosofia marxista. O materialismo sem a dialéctica é um materialismo vulgar, a dialéctica sem o materialismo é uma dialéctica oca, e em ultima análise impossível.
(Entrevista publicada originalmente na revista Etincelles nº8 em 2003, traduzida do francês)
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Posted by qmiguel em 01/03/2012
«A história pode ser examinada sob dois aspectos. Podemos dividi-la em história da natureza e história dos homens. No entanto, não podemos separar estes dois aspectos; enquanto existirem homens a sua história e a história da natureza condicionar-se-ão reciprocamente.» Marx e Engels, Ideologia Alemã-passagem rasurada
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Posted by J. Vasco em 09/02/2012
Já aqui, várias vezes, dissemos: a filosofia soviética é uma mina de preciosidades à espera de um trabalho de pesquisa sério, paciente e sistemático. Por aqui vamos apenas dando conta, sem regularidade, de algumas pérolas que nos surgem pelo caminho.
É claro que a boçalidade reinante apresenta a produção filosófica soviética, mesmo sem com ela ter o mais pálido contacto, como escalracho a clamar por remoção preventiva. E a seguir oferece dela um quadro pálido, cinzento, monocolor. A diversidade é, porém, a verdadeira marca de água dos autores soviéticos. Diversidade que assume algumas vezes os contornos da oposição e da contradição – e isto se nos reportarmos somente ao campo do marxismo, que é o que aqui nos interessa.
Confrontar a obra de David Dubrovsky com a de Evald Ilyenkov é deveras estimulante. Detêm-se ambos sobre o estatuto do ideal, mas a partir de posições bem distintas. Ilyenkov vê o ideal como algo que extravasa o conteúdo subjectivo da consciência, posição que, no quadro do seu pensamento, pretende evitar uma limitação kantiana. Ilyenkov considera que a realidade humano-social é a razão realizada, objectivada, e portanto o ideal tem uma feição objectiva. Dubrovsky, não negando a estrutura social, inter-subjectiva, do ideal (bem pelo contrário), considera-o no entanto, essencialmente, uma realidade interna, subjectiva, considera-o enquanto reflexo mental de múltiplas determinações da realidade e do organismo humano.
Há quem considere tudo isto desinteressante, demasiado árido, longe dos problemas mais candentes. No entanto, talvez não seja totalmente descabido tomar em mãos uma análise mais cuidada destes problemas. Por um lado, para dar conta das raízes sociais, complexamente mediadas, que se expressavam nestas diferentes posições filosóficas. Por outro lado, porque a partir delas, como num leque que se abre, surgem temas tão fundamentais como, por exemplo, a teoria do reflexo, o estatuto do valor, ou o fundamento da transformação social e política.
Aceder aqui a The Problem of the Ideal
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Posted by qmiguel em 01/11/2011
A destruição dos movimentos e das organizações comunistas, a sua respectiva descaracterização, é algo comum na história europeia recente. Mais complicado será certamente reorganizar, re-fazer, construir o que foi liquidado. É esta a tarefa actual de muitos comunistas em muitos países e organizações por essa europa fora. Deixo-vos aqui aquilo que creio ser um caso único de uma corajosa “reconstrução” de uma organização. Depois do eurocomunismo, da dependência do PCE e daquilo que os próprios caracterizaram como “o caos”, as juventudes comunistas espanholas conseguiram reorientar a sua participação tornando-se hoje numa importante organização de classe, numa escola política e numa vanguarda concreta que está presente nas mais importantes lutas que decorrem no nosso país vizinho. A verdade é que nos últimas décadas, a UJCE passou da quase-inexistência a um actor político concreto da luta de classe. A adopção do marxismo-leninismo como base ideológica(1993), do princípio de unidade na acção (1999) e do centralismo democrático (2003) não são certamente alheias a este “re-nascimento”. Este percurso singular merece a nossa atenção e deve ser objecto de uma profunda reflexão.
Aqui o documentário da rica história da organização, que se confunde com a história do nosso país vizinho:
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Posted by J. Vasco em 30/10/2011
O que mais impressiona nos chamados meios «cultos» é a sobranceira ignorância com que falam da história soviética, em geral. Em relação à cultura e à produção científica, em particular, o caso torna-se ainda mais gritante. Não certamente devido à barreira linguística e à falta de traduções portuguesas de obras soviéticas de peso (apesar de tudo, um problema real), mas sobretudo pelo preconceito rasteiro que povoa a mentalidade desse meio. Proclamam a validade do espírito crítico e praticam o mais destemperado obscurantismo.
Já aqui se falou de Ilyenkov. E de Vazyulin. Hoje far-se-á referência a Iakov Fomitch Askin (1926-1997), filósofo soviético com uma vasta e profundíssima obra. Grande parte do seu trabalho foi dedicada ao problema do tempo, estruturado sempre em diálogo com o avanço das ciências particulares da natureza. De assinalável interesse e relevância reveste-se a interpretação materialista da teoria da relatividade de Einstein que é avançada neste precioso livro. O tempo não é um receptáculo absoluto subsistente para lá da matéria. Ele é uma forma da matéria, forma que expressa o seu devir a um tempo uno e múltiplo.
«A essência do tempo não se encontra determinada por nenhuma forma concreta de movimento, mas antes pelo que é inerente ao movimento da matéria no seu conjunto: o processo de transformação, de devir» (p. 149).
Esta edição uruguaia de 1968, com tradução directa do russo de Augusto Vidal Roget, é excelente. Ignorar, hoje, os contributos da filosofia soviética não a belisca minimamente. Só desprestigia os ignorantes.
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Posted by J. Vasco em 30/10/2011
«Odeio os indiferentes. Como Friederich Hebbel acredito que “viver significa tomar partido”. Não podem existir os apenas homens, estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, cobardia, não é vida. Por isso odeio os indiferentes.
A indiferença é o peso morto da história.»
(CONTINUAR A LER AQUI)
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Posted by J. Vasco em 22/10/2011
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Posted by qmiguel em 16/10/2011
Vivendo faz já alguns anos na ilustre capital francesa, impôs-se-me como uma inevitabilidade prática adquirir um exemplar francês de algumas obras de Karl Marx (Sagrada Família, Ideologia Alemã entre outras) . Conhecendo a ofensiva ideológica corrente no mercado de edição (algo não exclusivo das terras gaulesas) não me ocorreu no entanto que um autor como Marx pudesse também ser alvo de uma ostensiva hostilização editorial, como a minha experiência comprovou.
Parti então à procura, verificando primeiro nas livrarias mais centrais, depois então nas maiores e finalmente em qualquer livraria que encontrasse. A minha longa procura permitiu-me ter uma visão mais lúcida sobre a divulgação da obra de Karl Marx. Encontramos portanto (quando encontramos algo…) o Manifesto do Partido Comunista, alguns volumes do Capital, e as obras dedicadas especificamente à situação francesa (Guerra Civil em França, 18 Brumário….), assim como edições duvidosas (estilo brochuras) de recolhas de textos parciais, a que os editores muitas vezes dão títulos de gosto e tecnicidade duvidosas. Esta colheita impõe-se como regra livraria após livraria e mistura-se com uma quantidade de bibliografia secundária duvidosa (por vezes abundante), a título de exemplo, numa das maiores e mais concorridas livrarias do centro é possível encontrar uma edição em vários CDs\DVDs de um conjunto de lições sobre Marx da autoria de Luc Ferry (cujos dotes de especialista na questão são no mínimo duvidosos, isto sem querer entrar em processos de intenção) , uma edição do Capital em BD (…), mas nem sinal de qualquer obra do pensador alemão de cunho “mais” filosófico.
Finalmente aconselhei-me com quem conheçe realmente o meio editorial francês e se interessa por estes assuntos. Disseram-me que é difícil encontrar tais livros, mas lá me indicaram uma livraria especializada na questão (uma “sobrevivente”). Chegado à tal livraria, e verificando que era realmente “especializada”, a resposta que obtive foi algo do género: “há anos que não o vejo” (em relação à Ideologia Alemã), e um “tive-o realmente há cerca de um ano, mas foi-se rapidamente” (em relação à Sagrada Família), entre outras desilusões. Quanto às prespectivas futuras da minha demanda, não me sossegou minimamente.
Creio que a descrito espelha bem a tragicidade da situação do mercado editorial, que não creio ser pior em França do que em muitos dos países vizinhos. Creio ser preocupante a inexistência material de tais obras. Já me tinha apercebido da gravidade da situação quando procurei outros autores marxistas, ditos menores. O que sucede é uma absoluta e silênciosa ocultação de obras de tal cariz. Muitas vezes editoras outrora mais progressistas guardam os direitos de tradução de certos autores recusando-se a reeditá-los ou a deixar que se reedite. Passo aqui em puro testemunho o vivido de uma situação problemática e de consequências provavelmente graves.
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Posted by J. Vasco em 10/10/2011
Alguns dos membros da Red Roja, em Espanha, lançaram um novo projecto. Chama-se Marxismo Crítico – Praxis, conciencia y libertad.
Disponibiliza estudos de filosofia, de economia e de psicologia. Tem textos de análise da actualidade, uma biblioteca de clássicos do marxismo, filmes e crítica cinematográfica. Num tempo que prima pelo menosprezo da razão e por derivas anti-teóricas de variada extracção – é obra.
Vale a pena visitá-lo e ir acompanhando o que por lá se vai publicando. AQUI.
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Posted by J. Vasco em 15/05/2011
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Posted by J. Vasco em 02/05/2011
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Posted by J. Vasco em 03/03/2011
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Posted by J. Vasco em 02/01/2011
O filósofo italiano Domenico Losurdo é uma personagem fascinante. Cordato e afável no trato, é autor de uma obra teórica impressionante – pela quantidade e, fundamentalmente, pela enorme qualidade. À erudição, à profundidade e à agudeza crítica, alia Domenico Losurdo uma muita sadia coragem intelectual e política e uma não menos importante capacidade de intervenção regular no espaço público dos continentes europeu e americano. Nos tempos que vivemos, estávamos precisados de muitos Losurdos…
Um dos combates pela razão, hoje em dia, passa por denunciar o baixo expediente a que se entregaram as classes dominantes desde a grande revolução francesa de 1789: taxar de «sandice», «loucura», «demonismo», os grandes movimentos históricos de emancipação da humanidade.
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Posted by J. Vasco em 05/12/2010
«O concreto é concreto, porque é a reunião de muitas determinações, portanto, é unidade do diverso. No pensar, aparece, pois, como processo da reunião, como resultado, não como ponto de partida, apesar de ele ser o ponto de partida real e, portanto, também o ponto de partida da intuição e da representação. O método de subir do abstracto ao concreto é, para o pensar, apenas a maneira de se apropriar do concreto, de o reproduzir como um concreto espiritual. De modo nenhum é, porém, o processo de génese do próprio concreto.».
Karl Marx, Grundrisse, Capítulo 1, 1857
NOTA: mesmo entre aqueles que se consideram marxistas, subsiste por vezes a ideia de que o concreto se reduz ao corpóreo, ao imediato, ao positivo e ao discreto. Este erro não deixa de trazer sérias e desastrosas consequências, quer a nível teórico, quer em relação à prática. O concreto é o multiplamente determinado, é um sistema de relações (intrínsecas e extrínsecas) – e é tudo isso processual e historicamente, ou seja, em devir. O abstracto é o separado, o isolado (relativamente) de uma totalidade. O abstracto é um momento da reconstituição concreta (espiritual) do concreto (material). Eis um dos aspectos da dialéctica do abstracto e do concreto, que Marx tão profundamente pensou.
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Posted by J. Vasco em 22/09/2010
«Entendo o pensar como a componente ideial da actividade real das pessoas em sociedade transformando simultaneamente, pelo seu trabalho, a natureza e a própria sociedade». (Lógica Dialéctica, Introdução)
Evald Ilyenkov é um dos grandes filósofos do século XX.
Personagem trágica (suicidou-se), de recorte entre o brechtiano e o shakespeariano, elevou e desenvolveu o pensamento marxista soviético a partir da herança hegeliana, nomeadamente a partir do seu núcleo racional: a dialéctica. No seu trabalho teórico em território marxista, notam-se também fortes ressonâncias de Espinosa, por quem Ilyenkov, de resto, nutria uma especial admiração.
A sua vasta obra (consultar aqui alguns dos títulos disponíveis em inglês) começou a ser conhecida no ocidente, nomeadamente em Inglaterra e em França, a partir de meados dos anos 80 do século passado. Já é tempo de ser traduzida para português. Os seus estudos sobre a consciência, sobre o problema do ideial e da ideia, sobre a lógica de «O Capital» – são inestimáveis para quem não desiste de pensar as realidades em movimento, num horizonte de transformação.
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Posted by J. Vasco em 17/07/2010
«Rosa Luxemburg». Margarethe von Trotta, cineasta alemã, realizou este belíssimo filme em 1986, protagonizado pela enorme actriz Barbara Sukowa no papel de Rosa. A vida teórica, política e sentimental da grande revolucionária nascida na Polónia (e, através dela, a vida de toda uma época histórica: a da primeira vaga de revoluções proletárias) é retratada sem nenhum simplismo, mas antes de forma densa, profunda e no seu devir.
O filme nunca passou comercialmente em Portugal. Se a memória me não falha, também a Cinemateca Portuguesa nunca o exibiu. Vi-o uma única vez, não tendo agora presente se no ano de 2001, se no de 2002. Passou num auditório do ISCTE, no verão, no âmbito de um ciclo de debates sobre o movimento operário. Assistiram ao filme, no máximo, umas dez pessoas. Depois de algumas pesquisas na net, não se encontra mais do que este minúsculo excerto de quase três minutos. Coisas das chamadas «indústrias culturais». Que odeiam a perspectiva de que «nós, que estamos em baixo, passaremos para cima». E que, para tentarem evitar a consumação desse pesadelo que lhes povoa o sentido, agem em conformidade.
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Posted by J. Vasco em 11/07/2010
«A revolução volta e tornará a voltar e proclamará: eu fui, eu sou, eu serei».
Rosa Luxemburg (1871-1919)
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Posted by J. Vasco em 14/06/2010
Esta obra, O Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, escrita em 1916 e publicada pela primeira vez em 1917, está para a ciência social e política como a teoria da relatividade está para a física, o evolucionismo para a biologia, a Crítica da Razão Pura para a filosofia, ou o D. Quixote para a literatura. Sem o seu estudo é hoje impossível compreender de forma adequada o desenvolvimento concreto da sociedade capitalista.
O presidente da Alemanha, Horst Köhler, decidiu a semana passada, numa entrevista, falar abertamente sobre a ordem burguesa que nos reina. Escutemos as suas preciosas palavras: «A minha opinião é de que, em geral, estamos a caminho de compreender, mesmo de forma ampla na sociedade, que um país com a dimensão do nosso [a Alemanha], orientado para o comércio externo, e por isso também dependente do comércio externo, tem de estar ciente de que, em caso de dúvida, de emergência, uma intervenção militar é também necessária para defender os nossos interesses. Por exemplo, para defender rotas comerciais ou impedir focos de instabilidade regional, que seguramente teriam impacto negativo no comércio, nos postos de trabalho e nos rendimentos».
Köhler aprendeu bem a lúcida lição do general Clausewitz: «a guerra é a continuação da política por outros meios». Mas fundamentalmente pôs a nu uma evidência que o discurso dominante se esforça, a todo o transe, por encobrir: as guerras na era do imperialismo são guerras de saque, guerras de pilhagem dos recursos dos povos do planeta, levadas a cabo pelas burguesias mais poderosas do mundo (simultaneamente, em competição e em concertação). As invasões do Iraque e do Afeganistão, por exemplo, aí estão, diariamente, a atestá-lo.
Consta que os colegas políticos do presidente se sentiram em apuros com este deslize (como dizia alguém, «verdades que doem como murros»). Afinal, é sempre perigoso, ainda que em condensado e em linguagem pouco científica, é verdade, estimular inadvertidamente o interesse dos cidadãos pela obra referida no começo deste post. Sabe-se lá se o diabo não irá tecê-las.
Fiquemos, porém, tranquilos. O discurso hipócrita das «intervenções humanitárias», da «difusão da democracia» e do «combate ao terrorismo» segue dentro de momentos. Numa universidade perto de si, numa livraria já ali à esquina, no quiosque de jornais à sua beira, na televisão da sua sala.
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Posted by * em 23/04/2010
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Posted by J. Vasco em 22/04/2010
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Posted by * em 16/02/2010
Claro que a idade das ideias não está directamente relacionada com a sua veracidade e importância, mas… já que a direita acusa os comunistas de seguirem ideias antiquadas, há que recordar o óbvio: a direita segue ideias muito mais antigas do que as ideias marxistas. A defesa do capitalismo surgiu há mais tempo do que a defesa marxista do comunismo. Já a ideologia religiosa, essa, tem milénios. Como ousam esses senhores falar do marxismo como algo antiquado, se defendem ideias muito mais antigas? Se o critério da relevância, veracidade e consistência das ideias fosse, como eles afirmam ser, a idade das ideias…também os bateríamos neste aspecto!
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Posted by * em 16/02/2010
O partido comunista é o único partido fundado numa cultura filosófica integral, coerente e sistemática. Para se ser verdadeiramente comunista há que militar, mas também há que, como parte integrante da própria militância, conhecer a história mundial e as realizações culturais de toda a humanidade (filosofia, ciência, arte, etc). E não por uma questão de erudição estéril, mas como momento intrínseco da condição de comunista. Um verdadeiro comunista deve procurar ter uma cultura universal, multifacetada. Torno-me mais comunista quanto mais consciente e culto for. Para os outros partidos, a cultura é erudição complementar, talvez uma vantagem, mas não é uma questão de dever, não é condição inerente a uma militância consequente. Para se ser um “bom militante” de qualquer outro partido, basta vestir a camisola, começar a “politicar” … e “politicar” de modo eficiente.
Para um comunista é ofensivo chamar “carreira política” à sua participação na luta, é um insulto à sua dignidade; para militantes de outros partidos isso é um elogio.
São partidos distintos, participações distintas, dimensões humanas muito, mas muito distintas. Por isso nos orgulhamos de sermos quem somos, de sermos como somos!
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