«Ex.mo Senhor
Reitor da Universidade do Mindelo
Antes do motivo que me obriga a dirigir-me a V. Ex.ª, permita-me uma breve apresentação: licenciei-me pela Universidade do Porto e como muitos universitários de minha geração, dedicámos muito da nossa juventude à luta clandestina contra a ditadura fascista instaurada durante quase cinco décadas e pela libertação do povo português e dos povos das colónias, que nesses anos 60 já tinham pegado em armas.
Militante pelo ideário da independência das chamadas províncias ultramarinas, e vítima também da guerra colonial, como muitos portugueses (o meu marido, oficial do quadro permanente, a cumprir a 3ª comissão em África), fui professora no liceu do Mindelo no ano lectivo de 1972-73.
Recordarei sempre o que para mim foi de gratificante esse ano lectivo, o que dei e recebi desses jovens do Mindelo, uma experiência que ao longo dos anos tive provas não ter sido esquecida.
Recordarei sempre aquele dia de Janeiro de 1973 em que todos, professora e alunos, nos recolhemos em homenagem a Amílcar Cabral assassinado, dia em que, em respeito pela consternação geral e, arriscando como o fizera sempre a repressão da polícia política, decidi não dar aula.